quarta-feira, 27 de abril de 2011

A arte no horizonte do (im)provável e AM Radio

“Parece que uma das características fundamentais da arte contemporânea, e que pode ser analisada tanto de um ponto de vista ontológico como de uma perspectiva existencial, é a da provisoriedade do estético. Enquanto que, numa estética clássica, a tendência seria considerar o objeto artístico sub specie aeternitatis, a arte contemporânea, produzida no quadro de uma civilização eminentemente técnica em constante e vertiginosa transformação, parece ter incorporado o relativo e o transitório como dimensão mesma de seu ser”. (Campos, 1969:15)
Neste post gostaria de prestar uma homenagem a um avatar muito especial: AM Radio. Refiro-me a um avatar artista que vem proporcionando momentos de imersão únicos no Second Life, nos quais entre tantos outros pensamentos, é possível refletir sobre as alternativas que ambientes como o SL oferecem à arte contemporânea. Infelizmente, para brasileiros que não freqüentam ou conhecem o Second Life, AM Radio continuará a ser um ilustre desconhecido, ao contrário do que ocorre em outros países onde ele é mais conhecido do público em geral, por causa das reportagens feitas sobre suas “instalações”, muitas delas mostradas em publicações importantes.

Nos últimos dias, no meio de vários emails recebidos, havia um enviado por ele dirigido ao seu grupo no Second Life, do qual meu avatar faz parte avisando que havia deixado um notecard importante. Assim que pude me conectei ao SL para tomar conhecimento do conteúdo da mensagem que, em poucas palavras, comunicava a sua decisão de “fechar” seus sims no prazo de seis meses. Após justificar brevemente as razões de sua decisão, o artista fazia um apelo: “Please feel free to continue to visit (them). Please encourage anyone you know who will miss the spaces to visit them with you. See my picks in my profile for landmarks”.

Não é preciso dizer que por alguns instantes lamentei sua decisão. Imediatamente fomos (eu e a avatar) até uma de suas instalações e enquanto fotografava passamos a rememorar algumas idéias que seu trabalho suscitara. Foi neste momento que o ensaio de Humberto de Campos veio à memória para lembrar as principais características presentes no trabalho de AM Radio: uma obra marcada pela estética do aleatório, do acaso, da idéia de precariedade e de brevidade.

Estamos falando de uma “obra” composta por cinco sims independentes, ou “instalações”, como preferirem. Em cada sim, um tema é sugerido como mote para provocar a reflexividade dos visitantes e fazê-los experimentarem/explorarem o ambiente. O aleatório não pode ser confundido com improviso. Ao contrário, a obra de AM Radio é extremamente precisa, o que não significa dizer que pretenda ser exaustiva, tampouco realista numa tentativa de oferecer um simulacro do mundo real. Sua precisão obedece outra lógica, qual seja a dos sonhos, onde o rigor da escolha se esconde sob a aparente aleatoriedade, acaso, precariedade e brevidade da paisagem e dos objetos, em alguns casos, até mesmo de certa desolação.

De todos os “artefatos” que vi com pretensões à obra de arte no Second Life, as instalações de AM Radio foram as que melhor traduziram para mim as palavras de Haroldo de Campos citadas na introdução deste post. Se existe uma busca pelo absoluto, ela não reside “...in the prims, the textures, or scripts. It was in your willingness to explore and experience the world in a way I tried to share it. My time in SL has been like having hundreds of people analyzing my dreams every morning. I have learned so much about many of you, but truly learned so much about myself” (AM Radio, Abril 2011).

Goodbye AM Radio! (Video 1)

I´ll miss your presence and dreams... (Video 2)

Palestra de AM Radio at Second Life (1)

Palestra de AM Radio at Second Life (2)

Palestra de AM Radio at Second Life (3)

Palestra de AM Radio at Second Life (4)

Palestra de AM Radio at Second Life (5)