quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Pensando o Second Life como AVA

Peço desculpas por ter ficado tanto tempo sem postar por conta das urgências e necessidades da vida. Tive um segundo semestre de trabalho bastante puxado e somente agora começo a ter um pouco mais de tempo para retomar este blog. Entretanto, devo dizer que minha “segunda vida” continuou firme, muito embora as imersões tenham sido também espaçadas. Uma das atividades que desenvolvi durante este tempo no SL foi investir em meus sims para prepará-los como AVAS (ambientes virtuais de aprendizagem) para usar em futuro próximo. O que significa isso?

No ano passado recebi uma proposta para participar de um programa de EAD, fiquei animada e comecei a me integrar ao grupo. Para começar, fiz um curso de Moodle, a plataforma usada pela equipe e na maioria dos cursos de EAD no Brasil. Mas aí aconteceu o que suspeitava: em função de minha experiência com o SL fiz algumas restrições ao Moodle e isso me obrigou a refletir sobre o assunto. O resultado foi a decisão de mergulhar mais fundo nas diferentes possibilidades de utilização do SL como ambiente de aprendizagem e de conhecimento.

Meu ponto de partida foi tentar distinguir duas vertentes da EAD em vigor no Brasil: a primeira e a mais difundida é aquela que fundamentalmente a concebe como alternativa para se suprir a demanda por escolaridade no país e, neste caso, ela é quase sempre pensada como uma transposição e adaptação da relação pedagógica tradicional para o meio digital; a segunda, bem menos difundida é aquela em que a EAD é concebida a partir de um novo conceito de educação e aprendizagem, por sua vez vinculado a uma perspectiva construtivista do conhecimento baseada nos princípios de compartilhamento, de colaboração e de cooperação (essas palavras podem parecer sinônimas, mas não são particularmente no SL).

A primeira concepção traz à tona impasses e dilemas importantes, porque se a EAD ainda se apresenta como uma alternativa possível para um conjunto maior de usuários que não tiveram acesso à escolaridade, ela fica limitada também a algumas poucas plataformas e, no caso, o Moodle acaba sendo a mais conveniente, apesar de suas limitações. Mas se estamos pensando em termos da 2ª concepção e de um uso mais abrangente das TIC´s, não apenas em programas de EAD voltados para suprir deficiências, mas como recurso pedagógico corrente no próprio ensino escolar presencial, o uso de determinadas plataformas precisa ser revisto.

Este é o caso do Second Life. Nesses três últimos anos tenho acompanhado as tentativas de grupos em promoverem o ensino à distância lá dentro, mas considero que com raríssimas exceções todos cometem o mesmo equívoco: o de tentarem replicar e simular os ambientes físicos escolares ou universitários presenciais e até mesmo suas formas de interação social!

Não adianta. Avatar residente que se preza não vai ficar sentado “assistindo” a uma aula dada por um suposto avatar-professor, numa réplica de sala de aula, durante um semestre ou um curso inteiro. Se isso já não funciona muito bem no ensino presencial, não funciona na internet, especialmente numa plataforma 3D.

No segundo dia, o “aluno” já põe seu avatar-aluno, muito possivelmente um ALT conectado a um programa de copybot e se manda ou veste seu avatar principal para fazer coisas mais interessantes pelo SL! Nunca será tão fácil matar aulas e nunca teremos tantos alunos fantasmas! Todos BOTS!

A situação relatada acima é verdadeira e foi posta em prática por um aluno-avatar nos idos de 2008, “obrigado” a entrar no SL para fazer um curso pela sua faculdade. O que quero dizer com esta situação é que a atenção, o interesse, enfim, o engajamento para com a aprendizagem e o conhecimento deve e pode ser mobilizado por outras vias, que não através da entrada compulsória no programa e através da simulação de um ambiente escolar e de uma relação pedagógica tradicional.

Sem dúvida, essa fórmula de utilização do SL para a EAD está fadada ao fracasso. E a meu ver este fracasso começa quando não atentamos para os regimes de convivência que regem as relações entre usuários e seus respectivos avatares e os demais usuários-avatares. Em outras palavras, o SL possui uma cultura muito própria e os dispositivos disciplinares, de controle e normalização que definem e justificam a instituição escolar presencial fundada na racionalidade moderna não se aplicam neste ambiente.

Não existe receita para se usar o SL como AVA e talvez este seja o principal desafio a ser enfrentado por aqueles que se interessam em explorar esta plataforma para ensino & pesquisa. Sim, me parece que este par deve andar sempre junto, porque somente quando professores e alunos compartilham suas experiências no SL, quando cooperam e colaboram entre si é que conseguem criar conteúdos relevantes em suas respectivas áreas de conhecimento. Como escrevi em um post anterior, o SL está mais próximo de um Laboratório do que de uma sala de aula.

2 comentários:

  1. Excelente post, Laura. Concordo totalmente!! Estou tentando encontrar as fotos do campo de concentração que te falei, o LM já procurei por tudo e não achei. Nas fotos talvez consiga recuperar o nome da Universidade! O que era interessante na proposta deles é que justamente exploravam a imersão da plataforma 3D. A disciplina era Literatura e o trabalho final proposto pela profa. era cada aluno construir um ambiente sobre o livro que leu... ou seja... prédios, objetos, sons... e até avatares (além do seus). Eu visitei a apresentação dos trabalhos finais, foi lá que vi o tal campo. Foi um barato. Morri de inveja dela! :( Beijo grande. Débora

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