sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Os mundos virtuais e a "nova economia"

Recentemente um amigo, professor de antropologia, igualmente interessado em cibercultura enviou-me este link pelo facebook. Ele me perguntava se estava a par deste fato. Disse que não estava, mas que não me surpreendia com ele. Afinal de contas, no Second Life havia me acostumado a ver pessoas e seus avatares gastarem fortunas em compras/aluguéis de ilhas, objetos variados, da mesma forma que sabia de outras que ganhavam bastante dinheiro lá dentro, revendendo/alugando ilhas, terrenos, criando e vendendo objetos, construindo, prestando diversos tipos de serviços etc.

Assim, não me foi difícil compreender os argumentos de Yan Panasjuk, o homem que comprou uma casa noturna em Entropia, um mundo virtual, por 335 mil dólares. Entretanto, não deixei de ficar bastante surpresa com o tratamento no mínimo “escandaloso” dado ao assunto, bem como os comentários feitos por leitores brasileiros de um blog, supostamente voltado para um público interessado, envolvido, antenado, consumidor de tecnologia digital e games em geral.

Isso me deu uma medida das representações coletivas e dos limites a respeito da cultura digital no Brasil. Mais ainda, me chamou atenção o fato de os leitores e comentadores do post, supostos usuários experientes, aparentemente não terem feito qualquer relação entre as mudanças profundas em curso na economia contemporânea e a cultura dos jogos, conforme destaca Yan Panasjuk em sua rápida explicação à revista Forbes que o entrevistou a respeito de seu “insólito” negócio.

Tudo isso me trouxe de volta à memória os comentários de Flaubert sobre o longo processo e julgamento movido contra ele por causa da publicação de Madame Bovary. Passei a imaginar como ele reagiria se pudesse voltar aos tempos atuais. Certamente, com sua profunda ironia, ele diria que seus adversários fizeram muito barulho para nada, já que sua personagem constitui hoje o padrão do consumidor médio moderno, aquele que é a meta comum de todas as empresas e organizações no mundo contemporâneo, com o detalhe de que o endividamento de Ema já é percebido consensualmente como comedido e conservador para os padrões atuais.

Cheguei a cogitar em postar um comentário no blog, mas pensei melhor a respeito e percebi que não valeria à pena, porque não é meu objetivo desenvolver qualquer forma de militância sobre este assunto, apenas acompanhar as controvérsias que os mundos virtuais suscitam no âmbito da cultura digital entre os próprios nativos e usuários.

É importante esclarecer que minha referência à Flaubert também não passa pela consideração de que a compra/venda de um clube em Entropia seja uma expressão de "bovarismo" contemporâneo e digital, não é nada disso! Caso estivesse fazendo este tipo de avaliação, estaria concordando com os leitores do blog, o que não é o (meu) caso. Penso que as razões que envolvem a compra de um clube ou qualquer espaço em um mundo virtual é algo bem mais complexo do que se imagina e envolve outras concepções de "valor" que precisam ser mais e melhor investigadas do que simplesmente desqualificadas.

Por isso mesmo, achei mais produtivo postar aqui para os interessados e aqueles que acreditam que o Second Life acabou, os vídeos de uma palestra dada recentemente por Philip Rosedale, o criador do Second Life na qual, entre muitas informações importantes sobre os números atuais do SL, ele fala sobre o papel que os mundos virtuais vem desempenhando na “nova economia”. Vale à pena conferir.

No mais, desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo com muitas trocas de bites, pixels e prims!




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