“Existem gerações do real assim como há gerações demográficas ou culturais.
A realidade nunca é dada de antemão (...) Incessantemente nossa espécie deriva de uma geração de realidade para outra, através de um movimento de desrealização que comporta duas fases principais: uma fase de simulação da realidade, relativa ao campo das representações filosófica, científica ou artística; e uma fase, geralmente não percebida, de substituição, na qual o real da geração precedente cede lugar ao da nova”.
(Paul Virilio, O resto do tempo)
Entrei no Second Life em 2007, juntamente com muitos outros brasileiros. Este foi o ano em que o programa ganhou uma interface de acesso em português tendo sido “anunciado” e “introduzido” pela mídia nacional ao público brasileiro como uma “poderosa” plataforma de marketing, mídia & entretenimento, além de um excelente ambiente de negócios. Um lugar onde as pessoas poderiam encontrar novas oportunidades de trabalho, ganhar algum dinheiro, além de ampliar seu network.“...a distinção entre objetos artificiais e objetos naturais parece a cada um de nós imediata e sem ambigüidade.(...) Se analisarmos esses juízos, veremos, no entanto, que não são imediatos nem estritamente objetivos...”
(Jacques Monod, o acaso e a necessidade)
Tendo em mente o que acontecera com o Orkut fiquei bastante interessada em acompanhar de perto a epopéia desses brasileiros na nova plataforma: que valores culturais eles estariam levando consigo para lá, de modo a alcançarem seus objetivos? Mais ainda, que objetivos seriam estes? Confesso que fiquei mais curiosa ainda para saber que relações estabeleceriam com todos aqueles bens/objetos digitais que circulavam no Second Life.
Mas devo confessar que tão logo ingressei no SL, vislumbrei de imediato muitas outras possibilidades de utilização do programa. Uma vez lá dentro constatei que poderia mesclar a pesquisa com o meu lado criativo e poético, com a literatura, e por que não – a utopia. Já citei aqui alguns escritores que me guiaram durante o trabalho de campo. Faltou mencionar escritores e pensadores brasileiros que também me inspiraram e foram meus guias, tendo me acompanhado durante esta jornada de descobertas, aprendizagem e trato diário com a estranheza.
Okatu foi o lugar concebido por mim para realizar meus experimentos ciber-antropofágicos e minha utopia ciber-tropicalista de traduzir em prims e em pixels imagens de pensadores e escritores brasileiros. Okatu é um nome de origem tupi e significa algo como “casa boa” ou “casa do bem”. Este conceito resume minha obstinação em recriar meu país virtualmente, a partir das paisagens, signos e ambientes emblemáticos presentes na literatura nacional – ensaística e ficcional – mas também de pesquisar suas possibilidades didático-pedagógicas e metodológicas em relação ao ensino e à pesquisa (da antropologia principalmente) no ambiente 3D. O projeto Okatu já se encontra em sua quarta versão.
Por falta de recursos não pude mantê-las todas montadas ao mesmo tempo, porque isso requer bastante espaço e prims, e, assim, as versões tiveram que substituir umas as outras. Mas cada uma delas poderá ser remontada novamente, desde que haja condições para tal, ou seja, ilhas e prims disponíveis. Cada uma delas dispõe de um inventário (acervo) e isso inclui desde avatares especiais, objetos-flora, objetos-fauna, objetos vários, texturas etc. Nos próximos posts falarei mais detalhadamente sobre cada uma das versões do projeto. Abaixo, foto de uma roça de mandioca virtual.
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